Era uma manhã daquelas: inverno chuvoso e frio. Meu sono era
profundo e o corpo mantinha uma “lombeira” que me impedia de me
movimentar ou abrir os olhos.
O miado insistentemente se fazia baixinho ao lado de meu rosto.
Minha gata incansável ao lado de meu gosto repetia: - Miau, Miau!
Irrita-me demasiadamente e não consigo me conter:
- Droga! São 6h da manhã. Não dá prá deixar-me em paz? Preciso
dormir mais um pouco. – resmungo inconsolada.
Desisto ao sentir sua língua molhada roçando na ponta do meu nariz.
- Tá bom Kiara, vamos lá!
E assim começou o dia, com a minha gata Kiara correndo para cozinha
e parando ao lado do potinho à espera que eu colocasse a sua ração.
E, o Gordo, gato que faz jus ao nome, antes mesmo que terminasse de
serviu aparece também. Este gato esfomeado veio correndo ao escutar
o som da ração caindo dentro do pote.
Nesse processo de ouvir o miado, levantar da cama quentinha e ir até
à cozinha, o sono que tinha se foi. Foi para onde? Não sei!
Passo para etapa seguinte da manhã. Vou até o banheiro faço minha
higiene pessoal reclamando da água gelada no rosto. Volto para
cozinha e preparo o café da manhã.
Cabe dizer, que desde o momento que acordei, meu cérebro está
trabalhando contra o tempo e elaborando como realizar todas as
tarefas em tempo tão restrito, com um elevado número de coisas que
foram programadas ontem.
Café pronto!
Acordo minha filha. Abraço. Beijo. Coloco a bandeja de café da
manhã na cama. Essa é uma tarefa que gosto. Normalmente, na bandeja
há duas xícaras coloridas com suco, um sanduíche para cada uma
e/ou um pedaço de bolo.
Que momentos gostosos são estes minutos juntas! Mas, como tudo que é
bom acaba rápido, observo no relógio do celular. Já passam das
7:30 e tenho de me apressar.
Arrumo-me e saio caminhando na rua onde moro no bairro Bom Fim, em
Porto Alegre, até a parada de ônibus próxima do Ginásio
Tesourinha. Aliás, a rua onde moro, tem pessoas que conhecemos a
mais de 30 anos. Srs e Sras muito simpáticas. A grande maioria
judeus dos quais gosto muito, pois fizeram parte de toda a minha
infância, adolescência, e agora, fazem parte também da vida de
minha filha. O que torna muito bom morar aqui. Parecemos uma grande
família.
Para onde estou indo? Trabalhar com remuneração financeira!
Caro leitor, já parou para pensar no verbo trabalhar e seu emprego?
Trabalhar, é um interessante verbo. Algumas vezes é mal empregado.
Você deve ter estranhado, quando disse trabalhar com remuneração
financeira. Mas é isso mesmo. Pois a ação de trabalhar é
constante. Quem disse por exemplo, que dona de casa não trabalha?
Veja bem. Acorda cedo. Lava. Passa. Cozinha. Limpa. Dá a atenção
aos filhos, aos animais de estimação e se tiver marido ou namorado,
também estes são lembrados e atendidos. Quando sobra tempo, se é
que sobra, a dona de casa cuida de si. Isso que é trabalho duro!
Bom, continuemos nosso dia.
Enfim, chego ao ponto de ônibus e lá vem ele. Estendo o braço. Ele
pára e eu entro.
Bom dia! – digo ao motorista, já velho conhecido, embora nunca
tenhamos conversado.
Bom dia! – responde.
Lá vamos nós.
Mais 20 minutos de devaneios. Só que neste momento sentada numa
cadeirinha. Meus pensamentos são desencontrados e sem continuidade,
pois cada parada do ônibus, observo tudo e todos.
Você, sabe como é! A violência está cada vez maior. Sempre há
quem atira pedras neste ônibus. Isso já é outra história, que uma
hora conto.
Quando chegamos no ponto final, vou para empresa. Entro na minha sala
e de mais 200 pessoas. Sento na minha PA. Ah! Desculpe. Usei um termo
técnico e pouco conhecido. PA é posição de atendimento, ou seja,
local onde o operador de atendimento telefônico realiza sua função.
Neste caso, função em uma central de chamadas telefônicas (call
center).
Este local tem um computador, uma cadeira, uma mesa, papel, caneta e
obviamente, fones de ouvido onde o operador de call center atende as
ligações.
Como você deve ter percebido, sou operadora de call center.
Já nos dois primeiros minutos atendo a uma ligação. Quase ninguém
liga para uma central de chamadas para elogiar, então vem a primeira
reclamação.
O grande segredo desta profissão é ser disciplinado, bom ouvinte e
não passar nenhum tipo de sentimento negativo ao cliente. Nossa! Não
sou mais eu, pois falo pelos cotovelos.
A empresa passa a falar com o cliente através de mim e como dizem:
“o cliente tem sempre a razão e quando não tem, é porque você
não entendeu direito, e ele tem!”
Escuto, analiso, digito palavra por palavra e dou-lhe uma resposta a
solicitação.
E, assim se processam as demais chamadas recebidas que ora são
reclamações, ora são dúvidas e muito, muito raramente mesmo,
elogios.
Já passaram as 6 horas e 15 minutos na empresa e devo ir embora.
Então, vou para o próximo trabalho.
Chego à faculdade e o trabalho mental continua.
No entanto, está direcionado a assuntos de meu interesse
intelectual. Graças a Deus!!!
Quando vai se aproximando às 22:40 o corpo já não aguenta mais. A
mente já está cansada mas não tenho como parar.
Saio da aula. Vou para casa.
Ao chegar, os trabalhos em casa continuam. A filha tem prova e
precisa de ajuda. Na mesa começamos a estudar, enquanto no fogão, o
jantar é aquecido e a máquina de lavar lava as roupas do dia.
Após, jantarmos, lavarmos a louça, estendermos as roupas no varal,
organizarmos os materiais da escola e faculdade, planejamos o dia de
amanhã. Nessas alturas do campeonato, já são 1:30 da manhã.
Um beijo de boa noite. Cada uma vai para sua cama.
Estou exausta! No entanto, muito feliz, pois se o trabalho dignifica
o homem, eis que estou a caminho. Enfim, durmo! Daqui a algumas
horas, mais um trabalho de cada dia.
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Beijo da Nana Pimentel