A vida é uma leitura! Ler é lutar! Leitura é libertação. Mas ser livre não é nada; tornar-se livre é tudo, não só em relação à sociedade, mas ao seu mundo íntimo. Liberdade é o preço da vitória, que adquirimos sobre nós mesmos.
A consciência erra menos, quando nos diz: ergue-te e voa, do que quando murmura fraca… triste: não te canses. O homem é maior do que de ordinário ele se julgar!... A massa dos homens é essencialmente chamada para ação. Por isso, esperar tudo do Estado, não menos que o esperar tudo de Deus, é um fenômeno patológico, é um sintoma de doença, um documento de preguiça.
Somos operários, artistas, homens de letras, que nada temos, que nada somos, visto como os nossos direitos se acham sequestrados nas mãos de meia dúzia de felizes, constituídos nossos depositários, de cujas iniquidades a lei é cúmplice. Nós, brasileiros, fazemos a impressão de viajantes, que se reuniram à noite em uma mesma casa de rancho, mas, logo que amanheça, cada um tomará seu caminho, quase sem probabilidade de outra vez se encontrarem. Deste modo de viver à parte, de sentir e pensar à parte, resulta a indiferença, com que olha cada um para aquilo que pessoalmente não lhe diz respeito e contempla, impassível, os tormentos alheios.
O leitor brasileiro não se constituiu, foi construído. Tudo lhe foi outorgado, como a um imenso autômato. A instrução é quase nula, porque também é nulo o gusto de instruir-se. O Brasil já faz a impressão de um menino de cabelos brancos. Estamos estragados.
Para mim, sei que seria fácil atirar-me em busca das facilidades, dizer à minha razão: não sejas curiosa, vamos aos meios… Impossível! Indigno! Quero ter o trabalho de preparar eu mesmo o alimento de minhas crenças, quero embebedar-me do meu próprio vinho.
A vida é uma leitura! Ler é lutar! Eo desgosto pela vida não é mais do que a incapacidade de criar um ideal.
Tobias Barreto, 1839-1889
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