Miscelâneas do Eu
Expressar as ideais, registrar os pensamentos, sonhos, devaneios num pequeno e simplório blog desta escritora amadora que vos fala são as formas que encontrei para registrar a existência neste mundo.
Não cabe a mim julgar certo ou errado e sim, escrever o que sinto sobre o que me cerca.
A única coisa que não abro mão é do amor pelos seres humanos e incompreensão diante da capacidade de alguns serem cruéis com sua própria espécie.
Nana Pimentel
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domingo, 4 de setembro de 2016
ALEXANDRE E A COBRA
De repente, quando mal me precatava, senti uma pancada no pé direito. Puxei a rédea, parei, ouvi um barulho de guiso, virei-me para saber de que se tratava e avistei uma cascavel assanhada, enorme, com dois metros de comprimento.
___ Dois metros, seu Alexandre? inquiriu o cego preto Firmino. ____ Talvez seja muito.
___ Espere, seu Firmino - bradou Alexandre zangado. ___ Quem viu a cobra foi o senhor ou fui eu?
___ Foi o senhor – confessou o negro.
___ Então escute. O senhor, que não vê, quer enxergar mais que os outros que têm vista. Assim é difícil a gente se entender, seu Firmino. Ouça calado, pelo amor de Deus. Se achar falha na história, fale depois e me xingue de potoqueiro.
___ Perdoe – rosnou o cego. ___ É que eu gosto de saber as coisas por miúdo.
___ Saberá, seu Firmino, - berrou Alexandre. ___ Quem disse que o senhor não saberá? Saberá. Mas não me interrompa, com os diabos. Ora muito bem. A cascavel mexia-se com raiva chocalhando e preparando-se para armar novo bote. Tinha dado o primeiro, de que falei, uma pancada aqui no pé direito. “___ Os dentes não me alcançaram porque estou bem calçado”, foi o que presumi. Saltei no chão e levantei o chicote, pois ali perto não havia pedra nem pau. A miserável enrolava-se, os olhos redondos pregados em mim, e a língua fora da boca. Zás! Desmanchei-lhe a rodilha com uma chicotada. Tentou endireitar-se, estraguei-lhe os planos com o chicote e fui batendo, batendo, até que, desanimada, ela meteu o rabo entre as pernas e botou-se devagarinho para um monte de garranchos de coivara.
___ Como é isso, seu Alexandre? – perguntou o cego. ___ A cascavel meteu o rabo entre as pernas? Cascavel não tem pernas.
___ Está claro que não tem – respondeu Alexandre. ___ Quando a gente diz que uma criatura mete o rabo entre as pernas, quer dizer que ela se encolhe, capionga, percebe? Foi o que se deu. Não é preciso um bicho ter pernas para meter o rabo entre as pernas. Seu Firmino é pessoa de entendimento curto e não compreende isso. A cascavel, que não tinha pernas, meteu o rabo entre as pernas e esgueirou-se para os garranchos e folhas secas que havia junto da estrada. Corri atrás dela e obriguei-a a voltar. Amiudei os golpes, a desgraçada bambeou e nem pediu fogo para o cachimbo. Machuquei-lhe a cabeça com o salto da bota. Estrebuchou, fez o que pôde para arrumar-se em novelo, depois se aquietou e ficou estirada na poeira. Baixei-me e medi o corpo mole: nove palmos e meio espichados. Isto é com o senhor, seu Firmino. Nove palmos e meio, entendeu? Mais de dois metros, penso eu.
( Ramos, Graciliano. “O estribo de prata”. 18ª. ed. São Paulo. Ed. Record, 1979 )
1- Estabeleça relação entre as colunas.
a- precatar ( ) mentiroso, loroteiro
b- potoqueiro ( ) agitar-se com violência, debater-se
c- rodilha ( ) prevenir, precaver, acautelar
d- coivara ( ) em forma de rolo, enrodilhado
e- estrebuchar ( ) pilha de ramagens que se queima, no campo, para limpar o terreno
f- inquiriu ( ) vacilou
g- capionga ( ) perguntou
h- bambeou ( ) tristonha
2- “A cascavel mexia-se com raiva ... para armar um novo bote”. “Bote” tem aí o sentido de:
( ) pôr, colocar, ( ) embarcação pequena, ( ) salto do animal sobre a presa, ( ) ataque, investida.
3- “A cascavel meteu o rabo entre as pernas?”, que explicação Alexandre deu a seu Firmino sobre a expressão “ meteu o rabo entre as pernas”?
4- Explique a expressão: “Seu Firmino é “pessoa de entendimento curto” e não compreende isto.”
5- De acordo com o texto atribua as características, usando A para Alexandre e F para Firmino:
( ) mentiroso ( ) cego ( ) minucioso ( ) exagerado.
6- O cego Firmino colocava em dúvida as histórias contadas por Alexandre. Retire do texto a passagem que comprova isto
1ª)
2ª)
7- ”Saltei no chão e puxei o chicote”. Onde se encontrava Alexandre para ter saltado no chão? Retire do texto a passagem que comprova a sua resposta.
8- Qual era a reação de Alexandre quando desconfiavam de suas histórias?
9- “O senhor, que não vê, quer enxergar mais que os que têm vista?”. Para Alexandre, o cego queria: ( ) ser muito inteligente; ( ) conhecer bem o assunto; ( ) saber mais do que os outros
( ) adivinhar o futuro?
10- De acordo com a descrição de Alexandre, como era a cascavel que ele encontrou?
11- Algumas frases do texto estão colocadas abaixo, fora de ordem. Numere-as tendo em vista a sequência de acordo com o texto.
( ) “Se achar falha na história, fale depois e me xingue de potoqueiro.”
( ) “... avistei uma cascavel assanhada, enorme, com dois metros de comprimento.”
( ) “Amiudei os golpes, a desgraçada bambeou e nem pediu fogo para o cachimbo.”
( ) “Saltei no chão e levantei o chicote, pois ali perto não havia pedra nem pau.”
( ) “___ Dois metros, seu Alexandre?”
12- De acordo com o texto a quem se referem as palavras abaixo destacadas?
a- “... e preparando-se para armar novo bote.” ____________________________________
b- “... os olhos redondos pregados em mim...” ____________________________________
c- “... estraguei-lhe os planos com o chicote ...” ___________________________________
“... e obriguei-a a voltar.” _____________________________________________________
d- “Baixei-me e medi o corpo...” ______________________________________________
13- No texto foi utilizado o discurso direto. Retire um trecho que confirme essa afirmação.
14- Que tipo de narrador o texto apresenta? Comprove sua resposta.
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8º ano,
Interpretação de texto,
português
Uma brasileira que está passando pela vida com garra, luta e tentando aprender mais sobre si e dos outros.
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