Miscelâneas do Eu

Expressar as ideais, registrar os pensamentos, sonhos, devaneios num pequeno e simplório blog desta escritora amadora que vos fala são as formas que encontrei para registrar a existência neste mundo.

Não cabe a mim julgar certo ou errado e sim, escrever o que sinto sobre o que me cerca.

A única coisa que não abro mão é do amor pelos seres humanos e incompreensão diante da capacidade de alguns serem cruéis com sua própria espécie.

Nana Pimentel

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

A aventura de Félix

Chegou em casa cansada do dia estressante. Na loja em que trabalha o movimento foi intenso. Os clientes entravam e saiam o tempo todo comprando presentes para o Dia das Mães. Suas pernas pediam para que se sentasse no canto e abandonasse tudo aquilo, mas como não se vive de brisa, valentemente terminou o dia.
Ao abrir a porta de casa não percebeu que ele havia saído. Pra dizer a verdade, estava exausta e nem lembrou que ele existia.
Foi direto tomar um relaxante banho. Deixou a água rolar. Sentiu o prazer do aroma exalado pelo sabonete. Ficou ali, talvez meia hora. Depois, enrolou o corpo na toalha e deitou-se. Enquanto isso, na rua ele se aventurava por entre os perigos da noite.
Há cerca de uma hora em frente de casa, espreguiçou e alongou o corpo mais que pode. Ficou um tempo observando a lua, as estrelas e o que lhe aguardava nesse universo novo. Até então, seu mundo eram as paredes da sua casa. 
Observou que não havia canto dos pássaros. Talvez por estarem em seus ninhos a essas horas. 
Os cães que durante o dia latiam ferozmente, hoje, nem um pequeno murmúrio. 
- Hummm. Tudo perfeito pra uma “esticadinha”.
Andou pelo mato selvagem de seu quintal. Comeu algumas coisinhas que ali cresciam, quando viu do outro lado da calçada uma loira linda. Pensou em ir até lá ver o que poderia arrumar com ela. Opa, arrumar? Digo combinar. 
A loira muito da exibida nem olhou pra ele. Passou altiva e num rebolado que lhe enlouqueceu. Ele ficou ali. Parado. Sem entender se era tão desprezível assim, ou simplesmente, ela não o percebeu. 
Continuou sua aventura na selva. Viu aranhas de jardim, algumas rãs, uma que outra cobra cega e algumas formigas. Todos os animais insignificantes para seu paladar. Talvez, se surgisse uma lagartixa pudesse saborear um pouquinho. Mas, não. Nada.
As horas foram passando. Sentou-se, deitou-se em uns panos jogados perto da churrasqueira até que veio a chuva. Foi na porta, mais uma vez chamou sua amada dona. 
- Chamouuuuuuuuuuuuu, chamouuuuuuuuuuu, chamouuuuuu.
Ninguém apareceu.
Triste por ficar ao relento se deitou no piso frio. 
Viu novamente a loira, mas desta vez, se fez de rogado e não deu a mínima a sua existência. 
Começou um vigoroso banho em seu corpinho roliço. Foi no momento em que seu rosto se aproximou mais de sua parte “sagrada”. Assustou-se. Algo estava diferente. 
- Cadê elas? Eram duas. Fui roubado!
Lembrou então, que outro dia, ouviu sua dona comentando que agora ele não acasalava mais. Não deu importância ao seu desconhecimento por que sempre teve preguiça de ver dicionários e achou a palavra insignificante. Já compreendendo tudo entrou em pânico, 
- Agora sei o que aconteceu. Que destino o meu. No frio da noite, sem uma ração e ainda CASTRADO. Triste destino de ser gatinho. 
Assim, adormeceu. Miando. Sofrendo com seu horroroso fim.
Pela manhã, a porta se abriu. Entrou correndo. Ronronando pulou no colo da dona conformado que nada poderia alterar seu carma. E ela se sentindo culpada de tê-lo esquecido, tentando compensar sua negligência, lhe acarinhou por longo, longo, longo tempo.

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